sábado, 3 de julho de 2010

A dor do pensar

Queira desculpar-me, mas estou farta! Não quero, não posso e não consigo mais. Se você tem um último suspiro de esperança, então me diga como farei para suportar tudo isso. Eu achava que era abençoada com todo o meu senso crítico, mas hoje eu vejo que tudo isso não se passa de uma sina. Dói demais.

Quisera eu ter condições de me afundar na mais tenra ignorância e me confortar nela, mas o caminho que eu fiz não tem volta. Eu gostaria de olhar nas ruas apenas pessoas, num aglomerado apenas multidão, na fumaça apenas fogo, na música apenas melodia, na tristeza apenas lágrimas, na pobreza apenas o desprovimento, no abraço apenas o carinho, no discurso apenas palavras. Mas não tem jeito! Não tem conserto. Estou condenada.

Já me afoguei no álcool, já me dopei no ópio, mas nada amenizou. Não teve efeito sobre os meus olhos que vêem esse mundo vil. Para ser sincera, talvez tenha tido efeito contrário. Já pensei em desistir, mas por orgulho não me darei por vencida! Já pensei no isolamento, mas não aprendi a ser sozinha. Já tentei deixar meu ceticismo, mas a religião é muito suja e a igreja muito baixa. Já busquei a espiritualidade, mas sou racional demais.

Já não leio mais, não estudo, não escrevo. Larguei de tudo isso. Mas o que eu não consigo é deixar de refletir. Eu gostaria de conseguir me deixar ser abusada, explorada, enganada sem perceber o que se passa, mas é mais forte do que eu. Eu vejo, eu sinto e me revolto. Gostaria de me calar diante da desigualdade ou de nem conseguir notá-la, mas aos meus olhos é impossível.

Estou cansada de novelas com final feliz, a vida não é um arco-íris. O mocinho nem sempre se dá bem e o vilão é sempre o maior beneficiado. Nem todos os mártires deixam seguidores e quando lembrados, são pintados pela estupidez. Veste-se nos militantes o uniforme do radicalismo, a maioria dos políticos é corrupta, os humanos se traem, a mulher apanha, a criança morre, o idoso sofre. O que fazer com tanto individualismo? De onde vem esse narcisismo?

Pouco importa a tecnologia quando a raiz dos nossos problemas está podre. Onde está a essência dos homens? Eu vejo aparências, vejo máscaras, supérfluos e superficialidades. Mas feliz eu seria se só isso eu enxergasse. O que me dói é ver além de tudo isso.

Eu queria encontrar minha felicidade no resultado de uma competição televisiva, de um jogo de futebol, na compra de um objeto, no contracheque de todo mês. Não consigo mais sentar na praça em dia de domingo e tomar um sorvete sem deixar de notar a imundice das nossas ruas. Não consigo passar na porta de uma escola sem pensar na precariedade da nossa educação. Tenho vontade de abrir as portas dos asilos, dos hospícios, dos internatos, dos conventos.

Qual será o meu fim? Será a loucura? A insensatez? Da alienação já desisti.

Eu achava que era um presente eu ser assim. Achava que era uma salvação, mas mais parece uma prisão, um cárcere. Estou cansada dessa luta passiva e silenciosa que acomete meus pensamentos, sonhos e reflexões. Estou farta de lutar só e comigo mesma.

Deixe-me no meu pessimismo, na minha desesperança, na minha indignação. Já não posso, já não quero, já não consigo.

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