quinta-feira, 3 de novembro de 2011

ELE FOI EMBORA

Ele foi embora. E, literalmente, descansou. Alexandre Duarte saiu de cena, arrancado brutalmente do nosso convívio. Não, Não foi fácil. Aliás, nada em sua vida foi fácil para ele.
Sua vida foi intensa. Foi tão tensa como o seu ser, tão ativa quanto o seu intelecto e tão grande como o seu corpanzil de quase 200 quilos e o seu extraordinário coração.
Sociólogo, ativista, comunista, humanista Alexandre Duarte foi um professor revolucionário e inovador, que jamais se acovardou ou recuou diante das pressões.
Com seu método impar e ousadia incomparável arrostou barreiras e abalou estruturas. Incomodou tanto que tornou impossível continuar. Perdeu a cátedra, não perdeu a dignidade.
Jamais me esquecerei daqueles nossos papos malucos e deliciosos madrugadas afora.
Meu velho e querido amigo, parceiro e companheiro de tantas jornadas se foi. Deixa saudade, muita saudade.
Saudade daquele homenzarrão capaz de despir-se por completo para vestir e agasalhar um estranho. Sinto-me órfão daquele gordo que, com a respiração sempre entrecortada pelo peso que carregava, não tinha limites para ajudar ninguém. Nem a matemática era qualquer empecilho. O seu dinheiro era de quem precisasse. E se não o tivesse mais, dava sempre um jeito.
O jeito Alexandre Duarte de ser e de viver. Confuso, turbulento, dinâmico, intenso, mirabolante, mas autentico, carismático, cheio de amor pelo outro.
Como esquecer aquele companheiro que, por volta da meia-noite, abandonou o conforto e a segurança de seu lar para socorrer-me quando meu carro, apanhado por uma tempestade, foi totalmente engolido pela lama que o soterrou. Chovia torrencialmente. E ele ficou ali, vigilante, disponível, com o barro até a cintura, até que o meu carro fosse resgatado, enquanto eu cuidava de minha mulher.
Como não me lembrar das dezenas de cadeiras dos postos fiscais, das viaturas e até dos escritórios dos contribuintes que não resistiram ao seu peso.
Alexandre Duarte honrou a palavra amigo. Tornou seus filhos filhos de outros, até de papel passado. Sua casa refletia o dono. Quem ali acorresse não passava nem fome, nem frio. Crianças, adultos, vizinhos, amigos, parentes e até estranhos se misturavam sôfregos e barulhentos.
Sua saúde vinha se esvaindo dia após dia. O cérebro, imune ao mal físico que o consumia, continuava prenho de ideias e de energia.
Ninguém desafiou tanto a tudo e a todos quanto Alexandre Duarte.
Faço minhas as palavras de sua filha Juliana: quem o conheceu sabe a grandeza e a bondade deste idealista nato.
Adeus velho e querido amigo.


From: guaramax@uol.com.br

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Engasgo

Os olhos caídos
Na janela se apoiavam
O pensamento vívido
Com palavras que voavam

O som límpido
Nos ouvidos mortos
O coração partido
Como se tivesse ossos

A fumaça do mais saboroso cigarro
Levava ao vento
Os sentimentos amargos
Que a saudade tenta

Lágrimas secas
Lembranças frescas
Arrependimento lúcido
Amor físico

O que se busca
Não se sabe
Mas a tristeza que ofusca
É certa e abate

Esperança não é mais nome
O que se quer não interessa
De paixão se tem fome
Mas coração não se pesca

A angústia é certa
Não há consolo
A palavra não conserta
Não há remédio para o choro

Choro que engasga
Melancolia que sufoca
Entrega que não se paga
Nem com corpos e bocas

Morreu nos pedaços de papel
Sucumbiu na espera
Nem ao menos foi ao céu
Definhou na Terra.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Minha Filosofia - Sou humanista?


Considero os conceitos centrais da moral humanista importantes e belíssimos. Acredito que para habitarmos um mundo mais harmônico e coerente é preciso respeitar os direitos humanos, uma vez que todos somos seres de dignidade e que merecemos assim ser considerados. Acredito que nenhum homem é pleno se não for autônomo e somente consegue sê-lo se houver dignidade. Havendo autonomia, há liberdade. Liberdade para ser e fazer o que lhe convier, para se auto-determinar, ditar suas próprias leis dentro de suas limitações circunstanciais e com a responsabilidade de preservar a si mesmo e preservar o outro. Um homem, então, apenas se auto-realiza se sua autonomia prevalecer, se conseguir exercer a sua liberdade com responsabilidade e tudo isso acontece havendo a garantia dos seus direitos humanos.

Creio em tudo isso. Mas também creio que se a humanidade vive a desilusão de uma utopia, de um sonho que não se concretizou, eu compartilho em muitos momentos dessa desilusão. Talvez por minhas experiências pessoais, continuo a crer no poder das relações consumistas e em sua força corrosiva. Sinto-me perdida numa causa que, em muitos lugares onde me encontro, tenho a impressão de que ela seja somente minha. Acredito nos conceitos centrais da moral humanista como aqueles que norteiam a minha conduta e que, muitas vezes reverberam naqueles que me são próximos. Mas não ecoam em todos os que me cercam.

Acredito no homem como um ser pleno em potencial, capaz de desenvolver ilimitadamente. No entanto, não acredito que todos os homens vejam a si mesmos como seres de infinitas possibilidades e acredito que o sistema de relações consumistas abafe sua percepção para essa condição. Fica então um questionamento incessante sobre como devo ser uma facilitadora na emergência dessa consciência de liberdade, dignidade e responsabilidade, não apenas àqueles que chegam ao meu consultório ou que perpassam minha vida profissional, mas também àqueles que cruzam meus caminhos pessoais e íntimos.

Confio na capacidade do homem de respeitar a liberdade do outro, à medida que reconhece sua própria liberdade. Contudo, delinear essa liberdade é para mim um desafio constante. Compreender minhas limitações me exige um exercício cotidiano e uma reflexão infindável. Tendo a subestimar os limites da minha liberdade e por isso mesmo, muitas vezes supervalorizo os limites da liberdade do outro.

Compreendo-me como uma pessoa muito racional, e esse excesso de racionalidade me leva a justificar muitas de minhas experiências, me impedindo de vivê-las plenamente. Entendo que meus limites hoje estão, assim, muito mais relacionados às minhas barreiras interiores do que às possibilidades das minhas circunstâncias. Atualmente, na minha busca de auto-conhecimento e desenvolvimento pessoal, viso romper algumas das minhas limitações tão íntimas e perder o receio de me entregar aos sentimentos.

A auto-realização se constitui em viver plenamente a liberdade, a responsabilidade, a autonomia e a dignidade que fundamenta os direitos humanos, e, a partir disto, encontrar um sentido para a existência. Por que estou aqui? Por que vivo? Para que vivo? O que significa ser homem? O sentido de cada qual não é imutável. Ele está para as mudanças que se fizerem ao homem, que por sua vez abre-se à possibilidade de auto-transformação. Penso que hoje o sentido da minha existência está em possibilitar aos outros encontrar o sentido de sua própria existência.

Ainda que eu veja a beleza da flexibilidade humana de se mudar o sentido da vida, esse fato me deixa insegura e me faz questionar, então, se o sentido da minha existência é de fato um sentido. O que, por sua vez, me faz notar minha compreensão do sentido como uma idéia de conclusão: apenas saberei o meu real sentido, quando minha vida estiver por se encerrar. Ao mesmo tempo, me confronto ao acreditar que posso, então, morrer sem saber o meu verdadeiro sentido. Posso mesmo me auto-realizar?

Acredito que hoje eu me auto-realizo. Mas posso me auto-realizar ainda mais? Se posso, significa que minha auto-realização hoje não é legítima?

Existem reflexões que libertam e existem reflexões que fazem doer. Creio que as minhas reflexões atuais mais fazem doer do que libertam.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

PARA O HOMEM QUE EU AMO...


"Eu não te amo por que preciso de você.
Eu te amo por que te quero.
E eu te quero por que quando eu estou com você eu não me sinto completa.
Eu te quero por que com você me sinto acrescida!
Eu te amo por que com você não sou melhor, sou maior. 
Eu te amo por que com você, somos muito mais do que dois.
Eu não te amo por que você atende as minhas expectativas.
Eu te amo por que eu gosto que você me surpreenda.
Eu te amo por que você não faz esforços para ser quem eu gosto, você também é quem eu não gosto.
Eu te amo por que quando você é quem eu desgosto eu sinto que amo uma pessoa e não uma idéia.
Eu te amo por que você não é meu e eu não sou sua.
Eu te amo por que posso ir embora.
Eu te amo por que você não me pede explicação, você me aceita.
Eu te amo por que sem você permaneço eu mesma.
Eu não te amo por que você me ama.
Eu te amo por que te amar foi a melhor escolha que eu já fiz.
Eu te amo por que você nunca me pediu que te amasse.
Mas me amou mesmo assim..."