terça-feira, 23 de agosto de 2011

Engasgo

Os olhos caídos
Na janela se apoiavam
O pensamento vívido
Com palavras que voavam

O som límpido
Nos ouvidos mortos
O coração partido
Como se tivesse ossos

A fumaça do mais saboroso cigarro
Levava ao vento
Os sentimentos amargos
Que a saudade tenta

Lágrimas secas
Lembranças frescas
Arrependimento lúcido
Amor físico

O que se busca
Não se sabe
Mas a tristeza que ofusca
É certa e abate

Esperança não é mais nome
O que se quer não interessa
De paixão se tem fome
Mas coração não se pesca

A angústia é certa
Não há consolo
A palavra não conserta
Não há remédio para o choro

Choro que engasga
Melancolia que sufoca
Entrega que não se paga
Nem com corpos e bocas

Morreu nos pedaços de papel
Sucumbiu na espera
Nem ao menos foi ao céu
Definhou na Terra.