quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Meu discurso de Formatura

No dia 15 de dezembro de 2009 recebi o título de Psicóloga pela PUC Minas. Fui encarregada de orar pela minha turma de graduação... Eis aqui o meu discurso:

Queridos colegas, meus amigos,

Hoje estou aqui com a grande responsabilidade de falar por vocês e para vocês, e me sinto imensamente honrada por isso.

Muitas vezes é difícil dizer se esses últimos 5 anos passaram rápido ou se o calendário esticou. Fato é que alguns eventos marcaram esse período: votamos em duas eleições, pulamos 5 carnavais, assistimos 1 Olimpíada, 1 Copa do Mundo... Em fevereiro de 2005, pela primeira vez em 26 anos de pontificado, João Paulo II, não faz a oração dominical na Praça de S. Pedro no Vaticano. Em agosto de 2006 é sancionada no Brasil a Lei Maria da Penha, e em dezembro cientistas da NASA encontraram provas da existência de água em Marte. Em novembro de 2007 a Petrobrás anuncia a descoberta de uma bacia gigante de petróleo e gás no litoral de Santos, transformando o Brasil numa nação exportadora de petróleo. Em outubro de 2008 irrompe a pior crise financeira mundial desde 1929. Em 21 de Julho de 2009 ocorreu o maior Eclipse solar total do século XXI.

Em cinco anos, a Terra girou em torno de si mesma aproximadamente 1.875 vezes, nós fizemos 10 matrículas, cursamos 73 disciplinas, assistimos 6.533 horas de aula, dormimos cerca de 13.125 horas, lemos quilos de papel, gastamos muitos reais em xerox, apresentamos trabalhos, fizemos provas, comemos muitos pães-de-queijo, tomamos litros de café...

Entre aulas de laboratório de Fisiologia, pares de nervos cranianos, neurotransmissores, aplicação e correção de testes, validade e fidedignidade, escores, monitorias, visitas ao Raul Soares, prontuários, atendimentos na Clínica da PUC, mais prontuários, muitos estágios curriculares, seminários, congressos, encontros, pesquisas, artigos, editais, filas de DA e DCE, vimos o tempo passar...

Enquanto isso, nasceram no Brasil, aproximadamente 14 milhões de crianças. Aquelas que vieram ao mundo quando acabávamos de passar no vestibular, já estão sendo alfabetizadas...

O Brasil, em 2009, tem 193.733.795 habitantes. Isso significa que nós temos 193.733.795 possibilidades de descobertas diferentes, e a cada ano que passa, nascem mais 2,8 milhões... E é aqui que mora a beleza da Psicologia.

Estudar a Psicologia, não nos torna melhor do que os outros. Nos torna melhor do que nós mesmos, melhor do que éramos. Mas sabemos que estudá-la, não nos dá todas as respostas e nem resolve todos os nossos problemas. Estudar a Psicologia consiste em plantar perguntas e mirar interrogações. Ela nos toma, nos envolve, nos contamina. Nossos olhos, marejados dessa ciência, não mais vêem o mundo com as lentes da conformidade, mas com as lentes da transformação.

Uma vez psicólogos, não mais conseguiremos ver a humanidade como uma massa uniforme e indistinta. Não mais conseguiremos perceber as questões humanas passivamente, sem nos indagar: “o que eu poderia fazer para ajudar a transformar essa realidade?”, ainda que a resposta possa ser: “muito pouco ou quase nada”. E é daí que deve emergir o nosso desejo de aprender, do não contentar-se com o nada ou quase nada poder fazer. Da Vinci disse, certa vez, que "aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende"...

Certa vez ouvi, num discurso como esse, palavras que me provocaram e que acredito nos caberem nesse momento:

Não é hora de sermos modestos. É hora de termos orgulho daquilo que nos tornamos. Não é hora de pouparmos nossos atributos, nossas qualificações. É o momento de exaltarmo-nos! Vejo à minha frente, psicólogos em florescimento. Profissionais formados por professores da maior competência, por uma instituição renomada e merecedora desse reconhecimento. Por isso, meus amigos, não devemos economizar na nossa ambição. Nós deixamos de ser estudantes para nos tornar estudiosos. Chegou a hora de pensarmos grande, longe, alto, por que hoje nós podemos!

Nesse momento, não devemos ser modestos, mas, agora e sempre, devemos ser humildes! Não devemos nunca acreditar que estamos prontos ou acabados. Nós, acadêmicos que somos, devemos ser deferentes ao conhecimento. Esse é um momento em que cabe repetir os clássicos dizeres de Sócrates: “Só sei que nada sei, e o fato de saber isso, me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa”. Como psicólogos somos Sujeitos Suposto Saber, sempre prontos para colher de todas as circunstâncias os frutos, e dentro deles as sementes que hão de ser germinadas e que brotarão as flores do conhecimento.

Juntos, não aprendemos apenas os conteúdos propostos. Juntos, aprendemos a conhecer. Aprendemos o respeito, a igualdade e a diferença num paradoxo complementar. Viemos de realidades diferentes, com idéias diferentes, objetivos diferentes. No entanto, agora dividimos uma mesma realidade, com algumas idéias similares, com objetivos parecidos, unidos por uma, ou por várias Psicologias. Ainda que em algumas circunstâncias tenhamos nos dividido em partes de semelhantes, queiramos ou não, continuamos a compor um todo que interfere no nosso sentido de coletividade, e também na nossa individualidade.

Hoje é o nosso dia de brilhar! É o dia em que todos os olhos se voltam para nós. Somos as estrelas do espetáculo. Mas, como não há palco sem bastidores, devemos nos lembrar que há várias pessoas que estão brilhando conosco nesse momento, ainda que mais sutilmente. Muitos foram aqueles que nos deram suporte, presença, carinho, esperanças, amor, amor e mais amor. Dedicamos nossa gratidão aos nossos pais, que em todo o nosso processo de crescimento, tamponaram as nossas imperfeições em muitos momentos, e não pouparam dedicação para nos proporcionar esse lugar. Aos nossos irmãos, que nos momentos difíceis nos estenderam a mão e facilitaram o nosso caminhar. Aos nossos cônjuges e namorados que por vezes assentiram em se abster do calor dos nossos braços, por compreender a necessidade do nosso recolhimento. Aos nossos familiares, orgulhosos de nossas conquistas, que nunca nos deixaram falhar a autoconfiança. Aos nossos amigos, que toleraram nossas ausências, relevaram nossos faniquitos e nossos mau humores, e sempre acreditaram no nosso potencial. Aos professores que compartilharam conosco o que de melhor possuíam, que nos emprestaram seu tempo, sua compreensão, sua confiança, seu afeto, seu carinho e que conquistaram não apenas alunos, mas grandes amigos. Vocês são fonte de inspiração e propulsores do nosso sucesso!

Este momento é um marco em nossas vidas. Daqui para frente, cada vez mais, poderemos nos sentir sozinhos na trilha profissional, mas com certeza, em nossos registros pessoais, poderemos buscar a presença de todos aqueles que compõem este título de graduação por nós conquistado.

Obrigada a todos vocês que são co-autores dessa história.

Iolanda Aguiar e Oliveira

Belo Horizonte - 15/12/2009