quarta-feira, 24 de outubro de 2007

A SOCIEDADE DE CONTROLE NAS MINÚCIAS DO COTIDIANO


Alarmes, códigos, senhas, radares, detectores de metal, câmeras, celulares, satélites, internet, televisão... Milhares são as formas de confinamento que encontramos disponíveis no mercado. Cada qual com sua finalidade. A insegurança nos induz à busca de vigilância e nos deixa presos porta a dentro de nossas casas.
Acordo cedo. Desarmo o alarme do apartamento. A central de segurança me controla, sabendo exatamente que fui eu quem o desprotegeu. Saio do prédio e, se me demoro, o portão soa um alarme ensurdecedor avisando a todos os vizinhos que alguém o deixou aberto tempo suficiente para que aconteça uma invasão (é assim que eles supõem ser). Tenho 20 segundos para sair em silêncio.
Pego o ônibus na esquina, logo me assento e vejo o anúncio na parte dianteira do veículo: “Por motivos de segurança, você pode estar sendo filmado”. Suponho que devo comportar-me, já que, como estão todos assustados, podem desconfiar de qualquer movimento suspeito que eu faça. Percebo o motorista reduzir a velocidade diante da placa: “velocidade controlada por radar”.
Desço do ônibus e entro na farmácia. Uma campainha avisa que passei pela porta. Em cima do caixa uma câmera de vídeo acompanhada do convite: “Sorria! Você está sendo filmado”. O segurança na porta, devidamente uniformizado, me diz, sem qualquer palavra, que, sob qualquer suspeita, posso ser punida. Faço minha compra com o cartão de crédito deixando meu rastro.
Saio da loja e meu telefone celular toca. É minha mãe querendo saber onde estou, com quem estou, a que horas retorno. Mesmo que a tonalidade de sua voz não transpareça, ela agora controla meus passos.
Entro no banco e tiro da bolsa todos os objetos metálicos, deposito numa caixinha e, enfim, estou autorizada a passar pela porta blindada com detector de metais. Tiro um extrato bancário. O banco controla meus movimentos financeiros. Mais uma vez as câmeras estão ao meu entorno.
Entro no shopping, seguranças acompanham meus passos, mais câmeras me observam. Vejo as vitrines convidativas com a última moda exposta, fazendo-me sentir um trapo. Concluo, então, que preciso renovar o guarda-roupa. Faço compras no cartão de crédito denunciando minha ousadia e minha carência por ser notada.
Pego o ônibus de volta para casa. Pago a passagem com créditos eletrônicos. A administradora do transporte público agora sabe qual ônibus peguei, a que horas, com que destino, quanto gastei na passagem e o meu saldo.
Chego em casa, passo por todos os dispositivos de proteção. Tomo banho com o shampoo que a modelo eleita a mais bela do mundo recomenda na propaganda. Olho-me no espelho e acredito que estou gorda. Logo penso: “Por que não sou como a atriz da novela das nove?”. Visto minhas roupas novas. Almoço uma salada detestável para garantir que serei como gostaria: magra, esculturalmente magra.
Ligo a televisão e vejo as personagens da novela ditarem a moda que acabei de aderir. Vejo um corte de cabelo na apresentadora de um programa e decido que devo cortar o meu. Ligo o computador, acesso minha caixa de entrada e vejo uma mensagem confirmando o recebimento do e-mail que enviei à minha amiga que mora fora do país. A mensagem informa o dia e a hora em que foi recebido.
O controle não é mais algo restrito às prisões ou aos quartéis. Até o cidadão mais honesto e inocente está submetido a um confinamento. Não é mais o nosso corpo que se tranca em quatro paredes, mas a nossa subjetividade que se limita a esse corpo livre e circulante. O que há de se manifestar, então, sob o olhar alheio constante, senão o que os outros gostariam de ver? Há quem ouse dar asas a essa subjetividade, mas o preço que se paga por essa ousadia é o estereótipo de louco, marginal. Existem sobre todos esses aspectos as instituições que manipulam esse controle. A mídia alicerça esse poder na sua condição de explorar os homens na sua fragilidade de necessitar dos olhares alheios, e, para garantir seu sustento, valoriza essa carência de tornar-se o centro. Esse padrão imposto tem adoecido o homem contemporâneo e a saúde se transforma em algo cada vez mais distante e penoso de se conquistar.


SUGESTÃO DE LEITURA: "Vigiar e Punir" - Michel Foucault

terça-feira, 23 de outubro de 2007

PRIMEIRA VIAGEM...


Cá estou eu, inaugurando o hábito de compartilhar meus pensamentos, sentimentos, gostos e desgostos...
Nesse universo de diversidade que é a web, pretendo alimentar as diferenças com minha singularidade. Pretendo questionar, argumentar, debater... Pretendo incomodar e confortar!
Para dar início a esse diálogo, deixo palavras de outrem como um convite à reflexão...

"Eu sou eu, você é você.
Eu faço as minhas coisas e você faz as suas coisas.
Eu sou eu, você é você.
Não estou neste mundo para viver de acordo com as suas expectativas.
E nem você o está para viver de acordo com as minhas.
Eu sou eu, você é você.
Se por acaso nos encontrarmos, é lindo.
Se não, não há o que fazer".
Oração da Gestalt

"Deixe que digam, que pensem, que falem... Deixa isso prá lá, vem pra cá! Que que tem? Eu não to fazendo nada você também... Faz mal bater um papo assim gostoso com alguém?"...
Jair Rodrigues

"E a gente vive junto
E a gente se dá bem
Não desejamos mal a quase ninguém
E a gente vai à luta
E conhece a dor
Consideramos justa
Toda forma de amor"
Lulu Santos

"Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida! E da minha também"...
Mutantes

"Why should he be treated differently
Shouldn't matter who you choose to love"
MADONNA - In This Life

"Nao me venha falar na malícia de toda mulher
Cada uma sabe a dor e a delícia de ser o que é!
Nao me olhe como se a polícia andasse atras de mim
Cale a boca e nao cale na boca notícia ruim!"
Caetano Veloso

MSN: iolandaagol@hotmail.com